A primeira referência documental do município de Ritápolis, antigo povoado de Santa Rita do Rio Abaixo, encontramos na Certidão de Batismo de Domingos da Silva Xavier, irmão mais velho de Tiradentes, ocorrida em 25 de Junho de 1738. Foi assinado pelo capelão de Santa Rita do Rio Abaixo, o então Padre José Fernandes de Barros, em 24 de Junho de 1738, vários outros batizados já haviam ocorrido, ocupando as cinquenta e tantas páginas anteriores.
O território da antiga vila de Santa Rita do Rio Abaixo foi constituído originalmente em meados do século XVIII por praticamente seis grandes Fazendas com grandes extensões de terra. Duas delas inclusive ainda estão de pé e bastante preservadas: Fazendas de São Miguel e do Mato Dentro. Uma terceira encontra-se em ruínas, que é a Fazenda do Pombal, onde nasceu Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, tombada como Patrimônio Histórico Nacional desde 1938. Uma quarta Fazenda, também já demolida, foi a Fazenda do Fundão, da qual temos como único registro de sua existência uma foto do início do século XX. Outras fazendas existiram ao longo do território, contudo não temos maiores dados de suas existências e localizações.
A Fazenda São Miguel, a mais antiga do território e uma das primeiras da região, é hoje propriedade de seus descendentes. Nunca foi vendida e encontra-se restaurada, apesar de algumas perdas como as senzalas e a capela. No início do século XIX, começou a ser dividida e se desmembrou em seis grandes fazendas e dois povoados até o final do século XIX que são as Fazendas do segredo, Cotia, Penedo, Jacu e Segredinho e os povoados de Restinga de Baixo e Redondo. Hoje sua sede ainda possui 1000 hectares de terra.
A Fazenda Mato Dentro se desmembrou nas Fazendas da Grota, Pinheiros, Primavera, Água Limpa e do Brumado, além dos povoados de Restinga de Cima e Caatinga.
O território da Fazenda do Pombal se estendia até os atuais povoados de Prainha, Penedo, Tapera e Glória, de Coronel Xavier Chaves, pertencentes hoje às terras da Fazenda Ouro Fino.
Uma outra grande Fazenda, a sudoeste do município, deu origem à várias outras como: Flavito, Cachoeira, Paciência, Sapé, Pilões, Machado, Gurita, Vista Alegre, Estiva e outras em consequência de seus desmembramentos.
A Fazenda do Fundão também se dividiu em outras como Barreiro, Soledade, Cachoeira e outras.
O núcleo original do antigo Arraial de Santa Rita do Rio Abaixo se formou como eixo de passagem em direção norte, tendo dois largos ligados por eixo tortuoso. O largo principal possui em seu centro a igreja Matriz do Século XVIII, de tipologia típica do Barroco mineiro, da Segunda fase, com riqueza se detalhes de seus retábulos com policromia e douramento, parte deles atualmente restaurados e preservados até hoje com sua Nave, Capela Mor, Sacristia e Capela do Santíssimo. A segunda Nave e a Torre são construções posteriores, de tipologia eclética neogótica, erguidas nos anos 1918/1920.
No entorno da capela de Santa Rita ergueram-se várias residências térreas, em alvenarias de Pedra, Taipa de Pilão e adobe sob influência do Barroco e um sobrado e que hoje já se perderam. Outras casas surgiram o longo da atual Rua Santa Rita até que se formou, por volta de 1820, o largo do Rosário, com a construção de sua capela e um cruzeiro de pedra em seu centro.
A partir deste núcleo original os caminhos e passagens se ramificaram dando origem ao largo do Espigão em meados do século XIX e da Várzea no final do século XIX e início do século XX.
Ao redor deste povoado de Santa Rita do Rio Abaixo, sugiram outros, como Laje, atual Resende Costa, em 1749, São Tiago em 1761, Bom Sucesso em 1754 e Ibituruna ainda no século XVIII.
Assim temos que santa Rita, bem como a Fazenda do Pombal, onde nasceu Tiradentes e a Capela de São Sebastião do Rio Abaixo, atualmente demolida pertenciam à Jurisdição do termo da Vila de São João Del Rei ou à Grande Comarca do Rio das Mortes. O povoado de Santa Rita do Rio Abaixo fica totalmente delimitado em 1775 e passa a ser denominado por distrito de Santa Rita do Rio Abaixo onde, atualmente sobre a mesma demarcação, encontra-se o Município de Ritápolis.
A origem do município não foi condicionada pela busca do ouro, surgindo de forma condicionada pelas atividades agrícolas e pecuárias, necessárias ao atendimento da população que chegava à Vila de são João Del Rei, em busca do ouro.
Sobre a Grande Comarca do Rio das Mortes e a Microrregião dos Campos das Vertentes, podemos citar como fato histórico importante o desfecho sangrento com as lutas da denominada Guerra dos Emboabas, que ocorreu entre 1707 e 1709. Tal comarca representou a célula inicial de amplo organismo judiciário, hoje ramificado em dezenas de comarcas nascidas de sua primeira jurisdição, sendo também a matriz geradora de mais de 200 dos atuais municípios mineiros.
A região do Rio das Mortes foi pioneiramente penetrada pelos Bandeirantes, ainda em fins do século XVII. Com a descoberta do Ouro em pontos centrais da Capitania, o território hoje denominado Campo das Vertentes, tornou-se passagem forçada dos exploradores que, vindos de Taubaté – SP ou Porto do Parati – RJ e transpondo a Serra da Mantiqueira, se dirigia para as lavas de Ouro Preto – MG ou Rio das Velhas – MG. Este roteiro, depois de conhecido como Caminho Velho das Minas, foi o fator inicial do estabelecimento dos primeiros povoados da região.
A mineração do ouro, se não chegou a ser o fator exclusivo da formação dos núcleos urbanos da microrregião, foi sem dúvida, o indutor maior desse processo e o que atuou de modo decisivo no florescimento dos principais povoados e vilas como Tiradentes e São João Del Rei em 1700 – 1704 e posteriormente Prados, Ritápolis, Resende Costa , São Tiago, Lagoa Dourada, Nazareno e Carrancas.
Quanto ao município de Ritápolis podemos, todavia, supor que os primeiros arruamentos e casas terão surgido simultaneamente à construção de sua antiga capela de Santa Rita do Rio Abaixo, nome dado devido ao achado de uma imagem de Santa Rita nas proximidades do Rio das Mortes. A capela hoje encontra-se com acréscimo feito em1918. Daí ocorreu o crescimento espontâneo do antigo povoado, que provavelmente tivera início antes de 1738.
Dados concernentes ao ano de 1823, já em pleno estágio de substituição da economia mineradora pela economia agropecuária; encontra-se os seguintes números sobre o arraial de Santa Rita do Rio Abaixo: 127 casas e 1133 habitantes, sendo este número superado apenas por Andrelândia e Carrancas.
Dentre o Município de São João Del Rei, após a decadência da mineração do ouro e na busca de novas alternativas econômicas, a região dos Campos das Vertentes cortada por inúmeros cursos de água, de maior ou menor volume, não deixaria de oferecer boas condições para o cultivo da lavoura e para a criação de gado, bastante favorecida pela existência de grandes extensões de glebas de campos, com razoáveis manchas florestais remanescentes.
As mais antigas referências uma exploração econômica datadas do princípio do século XIX apontam os produtos de origem animal como carne, queijo e couro. No decorrer do mesmo século o açúcar assume posição de destaque. Num levantamento feito em 1864, constam 06 fazendas possuidoras de engenho em Ritápolis, entre elas: São Miguel, Mato Dentro, Paciência, etc. Aparece também neste século, o cultivo de frutas. Mandioca e café já no final do século. Um outro levantamento feito em 1970 constou que Ritápolis possuía 569 propriedades rurais.
A microrregião, por sua peculiar formação geológica, é rica em minerais ferrosos e não – ferrosos.
Em 1942 descobre-se em Ritápolis a Cassiterita - minério de estanho – cuja exploração atualmente está paralisada, juntamente com Manganês, Colombita e em menor escala o Ouro.
Quanto ao crescimento de Ritápolis constatamos que havia 149 casas em 1864, 475 em 1968 e 663 em 1974, sendo que hoje possui mais de 1000 imóveis e 5435 habitantes no total. Sua emancipação como município se deu em 1º de Março de 1963.
Quanto ao sistema viário, embora o município já fosse beneficiário pela estrada de ferro Oeste de Minas desde 1903, é a partir de 1950 que refletem a maior expansão das rodovias que absorvem a quase totalidade do tráfego de passageiros e de transporte de cargas leves, ficando a estrada limitada ao transporte pesado, notadamente o de minério.
As rodovias da região são a BR- 265, a BR-381 ligando a BR- 040 e a BR- 494 que liga São João Dei Rei a Oliveira e passa por Ritápolis e São Tiago. Constituindo um eixo de três rodovias federais que cruzam a microrregião, São João Del Rei e cidades vizinhas desfrutam de situação privilegiada, o que vem fortalecer sua condição de centro econômico e turístico.
Atualmente Ritápolis é um município pequeno que vive basicamente de atividades agropecuárias, mas que possui uma infra-estrutura básica como calçamento nas principais ruas, água canalizada, UBS, posto de saúde, 08 escolas, sendo 07 Municipais e 01 Estadual de Ensino Médio e Fundamental, uma biblioteca na Escola Estadual Padre Crispiniano, um monumento tombado como Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN, que é a fazenda do Pombal, local de nascimento de Tiradentes, FLONA (administrada pelo ICMBIO), vários outros preservados como a Fazenda do Paiol, onde se descobriu a Cassiterita, e outros na cidade como a sede da Prefeitura, que contam um pouco da História do Município e de seus habitantes.
(Texto: Fábio José da Silva)
Cachoeira de Penedo
Cachoeira do Flavito.
FONTE: http://www.ritapolis.mg.gov.br/portal/index.php/nossa-historia